Assim como ocorreu com o Gol e o Voyage, a geração 5 da picape Saveiro provocou uma sensação de frescor num segmento em que a última novidade havia surgido em 2003 – a Montana, da Chevrolet. De um momento para o outro, a líder de mercado Strada, da Fiat, pareceu que havia envelhecido dez anos tamanho o choque em vê-la perto da nova picape da Volkswagen.

Não era para menos. A montadora alemã quer a todo custo recuperar o primeiro posto em vendas no mercado brasileiro perdido para a Fiat. E a Saveiro é peça-chave nessa estratégia: é justamente sua rival Strada o fiel da balança no ranking. Embora a VW já venda mais automóveis de passeio que a Fiat, a picape da marca italiana vira o jogo ao vender mais de sete mil unidades em média todos os meses – a velha Saveiro sofre para atingir 2 700 exemplares.

O discurso oficial da Volks é o de vender cinco mil Saveiros numa primeira fase, mas os executivos confidenciam que esperam mais da nova picape, talvez superar a Strada até o final do ano. Se conseguir isso, fatalmente passará a frente da Fiat, mas é ingênuo não crer que a Fiat irá contra-atacar. Melhor para os consumidores que podem ver descontos generosos daqui para frente.

Novo visual é o chamariz

Ao projetar um novo modelo do zero, uma marca pode melhorá-lo em todas as direções. É o que ocorre com a Saveiro: ela é maior, mais espaçosa, mais capaz, melhor equipada e muito mais atraente que sua antecessora. Apenas o consumo de combustível ficou no ar, literalmente. A Volks não divulgou os valores, mas disse que são similares aos do Gol.

Entre os atrativos do modelo, sem dúvida, o principal é o visual. Se o Gol e o Voyage ainda causam descontentamento em alguns, a Saveiro parece mais resolvida no quesito estético. A cabine de passageiros é baixa e com vidros estreitos, o que ressalta esportividade, a caçamba tem laterais volumosas e o apoio de pé lateral igual ao da rival Montana. Mas basta olhar suas linhas para notar que na VW o resultado é mais elegante enquanto a Chevrolet apresenta cortes profundos na carroceria.

A traseira, inspirada na da futura picape média Amarok, transmite bom acabamento, sobretudo nas lanternas verticais. Nem tudo é perfeito, evidentemente. A escolha de rodas aro 14 de aço nas versões simples destoam do resto do veículo. Mesmo a roda de aço estilizada, de 15 polegadas, causa uma certa estranheza, embora a justificativa para isso seja aceitável, o de manter intacta a região em pisos ruins.

Diferença nos detalhes

Menos evidentes, as pequenas soluções do dia-a-dia devem agradar os proprietários aos poucos. É o caso da tampa da caçamba, que possui uma mola a gás e evita que a peça caia quando aberta. Além disso, é possível fechá-la com chave, o que, de quebra, impede que a trava do estepe, localizado abaixo da picape, seja acessado.

Outro capricho são os ganhos deslizantes na borda da caçamba, facilmente ajustáveis conforme a carga. O rack do teto, opcional em algumas versões, serve para múltipla finalidades. Além de carregar objetos, ele tem função aerodinâmica e um dispositivo retrátil que serve para amarrar itens mais longos.

A caçamba da nova picape é mais larga e mais comprida que anterior, claro, mas possui um detalhe a mais, as caixas de rodas deslocadas para fora para facilitar a acomodação de objetos mais largos.

Em relação ao Gol e ao Voyage, o entre eixos da Saveiro é 15,3 cm maior e as bitolas, como dito acima, 4,7 cm e 10,8 cm mais largas que as do hatch e do sedã. Essas caraterísticas somadas à suspensão traseira de eixo de torção transformaram a picape num automóvel na hora de dirigir. O modelo é bem estável e a suspensão até firme demais para esse tipo de veículo, acostumado a apresentar oscilações e rolagem em curvas.

Com relações mais curtas na 1ª e na 2ª marchas, o câmbio MQ200 faz a Saveiro saltar com força quando vazia. O teste-drive foi realizado em meio a chuva torrencial e não conseguimos chegar a 102 km/h para avaliar o ruído interno. Apesar disso, o som do áspero do motor chega a invadir a cabine em rotações mais altas. A suspensão  passou mais vibração para dentro do que esperávamos em pisos ruins.

Mesmo assim, a dirigibilidade é agradável, sobretudo na estrada, onde seu entre eixos longo e seu perfil baixo funcionam bem. Aliás, a aerodinâmica trabalhada nos detalhes faz a picape fluir bem a ponto de não percebermos tanto o barulho do vento em velocidades um pouco mais altas.

Espaço para carga e bagagem

Evidentemente, o principal atributo de uma picape é levar carga. Nesse sentido, a Saveiro leva na caçamba 924 litros na cabine simples e 734 litros na estendida. O compartimento traseira desta última pode levar mais 300 litros – a simples oferece apenas 108 litros.

Os valores são superiores aos da Saveiro anterior, mas perdem para Strada e Montana – esta última, por exemplo, tem mais 200 litros na caçamba em relação a Saveiro cabine simples.

Pequenas e grandes diferenças

A Volkswagen diz que ouviu seus clientes e o resultado foram três versões, uma para cada perfil de público. A básica, para uso pesado, não traz pintura nos para-choques e grade, vem com rodas aro 14 de aço e tem interior simplificado, com tecido dos bancos sem detalhes, vidro traseiro sem protetor e chave sem keyless.

A intermediária é, na verdade, um módulo, o famoso Trend, que custa R$ 890 na cabine simples e R$ 920 na estendida. Ele traz calotas, grade traseira, detalhes pintados na cor do veículo, conta-giros, revestimento melhor dos bancos, chave canivete e faróis duplos.

Já a Trooper é, de longe, a mais equipada. Possui rodas de aço de 15 polegadas, mas estilizadas para parecer de liga leve. O brake-light tem função extra de iluminação da caçamba e a versão vem com direção hidráulica, I-System, temporizador e volante com regulagem de altura e profundidade.

Para complicar a vida dos interessados, os opcionais são muitos e agrupados em módulos. Trio elétrico, ar-condicionado, som, sensor de estacionamento, faróis de neblina, airbags e ABS com EBD são adquiridos dessa forma.

Carga leve

Perguntada sobre qual versão venderá mais, a Volkswagen apontou uma disputa entre a Trend e a Trooper, com quase 40% de participação no mix. Segundo a montadora, pouca gente usa uma picape compacta para trabalho. Mesmo nesse caso, a média de peso da carga é surpreendentemente baixo, apenas 200 kg. Para os alemães, a Saveiro é antes de tudo, um automóvel de passeio: jovem, aventureiro, descolado, mas que vai mais ao shopping e entra mais pela frente que pela área de descarga.

Ficha técnica