HB20, um carro que vale a pena esperar

Ao contrário do Toyota Etios, hatch brasileiro da Hyundai demonstra ter força para abalar domínio do Gol
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Traseira do HB20 lembra a da nova geração do i30, ainda inédita no Brasil | Imagem: João Kleber do Amaral

Por razões que envolvem custos e mesmo a concorrência um tanto fraca, o segmento de hatches pequenos, mais volumoso do mercado, nunca apresentou um veículo que fosse capaz de unir design, bom acabamento e dirigibilidade apurada. Ou se escolhia uma direção ou outra. É por isso que o Hyundai HB20, o primeiro modelo criado especificamente para o Brasil, tem tudo para quebrar essa escrita.

AUTOO andou com as três versões que serão lançadas em outubro na pista da marca e pode-se dizer que o carro superou qualquer expectativa positiva.

Quando a Hyundai decidiu desembarcar no Brasil há alguns anos escolheu o segmento de carros compactos para estrear sua fábrica nacional. Uma aposta arriscada já que as quatro marcas tradicionais (Volkswagen, Fiat, General Motors e Ford) dominam esse nicho com produtos que vendem principalmente pela imagem de confiança e robustez.

Segundo se comenta no mercado, a montadora levou para a Coréia do Sul exemplares de Gol, Palio, Uno, Celta e outros potenciais rivais e literalmente os “dissecou” para buscar uma solução melhor em cada aspecto. Claro que essa estratégia não é garantia de resultado. Como os modelos populares precisam ser baratos acabam perdendo pelo caminho do projeto vários refinamentos. Ou seja, não há milagre nessa tarefa. Que o diga a Toyota e a Nissan. As duas produziram seus “populares”, o Etios e o March, mas eles se sobressaem mais pela imagem de qualidade dos japoneses do que pela beleza exterior ou interior.

Veja também: avaliação do Toyota Etios

Hyundai EHB20
AUTOO

Hyundai HB20: este é o visual definitivo do modelo nacional. Lançamento será em setembro

Nada garantia que a Hyundai conseguiria fazer o que suas colegas japonesas falharam em obter, mas o HB20 parece capaz de tornar realidade esse milagre.

Sem economia nos detalhes

Para não deixar o leitor do AUTOO curioso até o lançamento daqui há dois meses, produzimos duas imagens exclusivas que mostram com 99% de exatidão o HB20 de série.

Ao nos defrontarmos com o Hyundai dentro de um container no meio da pista de testes da fábrica a primeira impressão é de ser um carro “premium”. A carroceria traz várias reentrâncias e detalhes caprichados e o que é raro no setor, uma frente que “fala” com a traseira. Seu visual não chega a surpreender já que segue à risca o estilo “escultura fluída”. Segundo a Hyundai, o HB20 usa a mesma base do novo i20, um hatch mais equipado que será relançado na Europa em breve.

As portas do modelo abrem num ângulo bastante pronunciado, outro sinal de preocupação com a acessibilidade. O HB20 começa a se destacar dos rivais por dentro. Seu interior segue a mesma preocupação com a carroceria: o painel é cheio de recortes e linhas o deixam com um aspecto mais sofisticado.

Sim, a Hyundai usa painéis de plásticos inteiriços em algumas partes, como outras marca, mas a qualidade do material e os encaixes são nitidamente melhores. Botões do ar-condicionado e do rádio são leves e precisos. O painel de instrumentos, com dois conjuntos circulares e telas centrais digitais, tem iluminação com cores variadas entre branco e azul principalmente. O volante, de quatro raios e comandos satélites do rádio, tem atuação hidráulica.

Os bancos trazem tecidos de boa qualidade e são bastante confortáveis. Há até apoio de braço independente para o motorista. Na traseira, os passageiros viajam num nível mais baixo para permitir mais espaço para a cabeça. O túnel central é baixo, o que ajuda um terceiro ocupante a posicionar suas pernas, embora três pessoas atrás fiquem apertadas. De maneira geral, o HB20 oferece um bom espaço interno e para bagagem, mas não deve ter isso como um diferencial (a Hyundai não revelou nenhum dado técnico dele).

A lista de equipamentos possíveis é extensa: notamos no carro itens como direção com coluna regulável em altura e profundidade, vidros elétricos nas quatro portas (mas “one touch” apenas para motorista), computador de bordo, ar-condicionado manual, rádio com MP3 e conexão para dispositivos móveis (mas sem Bluetooth), ajuste elétrico dos retrovisores, repetidor de sete nos retrovisores externos, luzes individuais para os passageiros e também no quebra-sol, porta-óculos, airbags frontais e ABS, rodas de liga 14 e 15 polegadas (além de aço para a versão 1.0), sensores de estacionamento e crepuscular, chave-canivete, bancos bipartidos, estepe com roda de liga, diversos porta-copos e até sistema Isofix para cadeiras infantis, coisa comum em carros mais caros.

Nada disso, no entanto, está garantido nas versões de produção. A Hyundai deixou claro que os modelos avaliados ainda são experimentações e que as versões finais (1.0 manual, 1.6 manual e 1.6 automática) podem ser equipadas com parte desses itens. Essa decisão, como se sabe, será tomada mais perto do lançamento, dependendo dos preços e conteúdo da concorrência.

Na pista

Depois de analisar o HB20 na “lupa” fomos rodar com as três versões na pista da fábrica, um test-drive limitado mas que permitiu algumas conclusões. Começamos pela versão mais cara, com câmbio automático de quatro marchas. A caixa entrega um desempenho consistente, com trocas sem trancos desconfortáveis e com velocidade compatível. O motor 1.6, cuja potência e torque são desconhecidos embora devam estar próximos dos valores do Kia Soul flex, entrega uma performance condizente, mas sem arroubos de desempenho. Como “calçava” pneus aro 15 mais largos, a direção do HB20 automático ficou pesada, mas o carro mostrou boa estabilidade e um silêncio na rodagem promissor.

Dele fomos para o 1.6 manual que tinha rodas menores e pneus mais confortáveis. O volante, sem revestimento de couro, mantém a boa empunhadura. Esta foi a versão que mais agradou. Sem a transmissão automática que limita a tocada do carro, o HB20 mostrou-se um hatch com comportamento beirando o esportivo. O câmbio manual tem trocas suaves e bem escalonadas e sua direção é bem precisa.

Por último, andamos no 1.0 que usa um bloco de apenas 3 cilindros (contra 4 dos modelos convencionais). A tendência de reduzir volume nos motores já é um caminho sem volta na indústria, mas deve causar estranhamento no consumidor. O ruído áspero do motor fala mais alto e incomoda, mas o desempenho é bom e a promessa de um consumo mais brando compensam em parte o desconforto. Como trazia praticamente todos os itens possíveis, a versão “popular” do HB20 não pode ser julgada adequadamente.

O Gol é o alvo

Questionado se o HB20 miraria mais no Gol ou no March, modelo da Nissan com preço baixo e pacote mais generoso, o presidente da Hyundai no Brasil Chang Kyun Han não teve dúvidas em apontar o modelo da Volkswagen. Daí se deduz que a Hyundai deve posicionar o HB20 numa faixa de preços próxima a do modelo.

Se esse raciocínio for seguido pode-se dizer que o HB20 1.0 custará em torno de R$ 28 mil, o 1.6 manual, R$ 32 mil e o 1.6 automático, R$ 36 mil. Se a lista de equipamentos de série for superior ao VW, certamente a Hyundai terá “problemas” para dar conta da demanda.

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