Fox manteve virtudes e corrigiu defeitos
De quebra, o novo visual deixou o hatch com ar mais sofisticado e alinhado com os modelos mais atuais da Volkswagen
Para muitos, a vinda do Polo para o Brasil, em 2002, foi um grande erro de estratégia da Volkswagen. A meta era tornar o compacto premium o segundo carro mais vendido da marca, atrás apenas do Gol. Mas seu projeto sofisticado, feito para a Europa, empolgou tecnicamente e decepcionou nas lojas - o hatch se mostrou muito caro para o consumidor brasileiro.
Hoje podemos afirmar que a Volks acertou em trazê-lo para cá. Isso porque graças a ele outros modelos da marca puderam evoluir usando sua plataforma e seu conceito. O próprio Gol e o Voyage usam muito de seus componentes e até mesmo do Polo europeu, como o eixo de direção. Mas o primeiro carro a se beneficiar da experiência com o Polo foi o Fox.
Lançado em 2003, o hatch estreava um conceito “crossover” numa época em que esse termo nem existia. Com carroceria alta, mas dimensões compactas, e um interior inspirado em minivans, o modelo usou e abusou do motor, câmbio, suspensões e peças do Polo, mas com materiais e detalhes mais simples, ao alcance do poder de compra do brasileiro.
E o papel que seria do Polo coube ao Fox: virar o segundo carro da Volks no Brasil. Seu público sempre foi o jovem, que buscava um automóvel mais descolado, e o feminino, pela sua versatilidade, posição de dirigir elevada e simpatia. Para os homens mais velhos, o Fox pouco significava – a saída era o Polo, embora mais caro.
Seis anos depois, a Volkswagen resolveu arriscar e reformulou o Fox. Em primeiro lugar porque o Gol da geração 5 acabou agradando tanto que tornou a existência do Fox um pouco sem sentido. E também por que a concorrência avançou sobre a ideia da Volks: a Renault trouxe o Sandero, com mais espaço interno e a Chevrolet se inspirou originalmente no Fox para criar seu Agile.
O outro aspecto surpreendente é que em vez de mudar o Polo e criar uma espécie de Polo um e meio, como fez com o Golf, a VW apostou no Fox para receber o visual e o interior copiados do novo Polo europeu.
De rascunho a desenho final
O resultado da reformulação do modelo espanta. A impressão é que o Fox anterior não passava de um rascunho e que agora temos a versão definitiva. A falta de harmonia comum aos face-lifts nem passa perto do novo Fox. A frente casou com a carroceria e o interior faz esquecer completamente o painel anterior.
Como o conjunto mecânico já era aprovado anteriormente e o espaço interno sempre foi generoso, restou à Volks atacar os pontos fracos do Fox original. Em suma, melhorar o decepcionante interior.
Com isso o Fox se aproximou do seu inspirador, o Polo. Bancos com revestimento de qualidade, portas com plásticos agradáveis ao toque e detalhes em tecido conferem uma outra atmosfera para o carro.
Mas a grande evolução foi mesmo o painel. Praticamente não se vê sinais do antigo (exceto pelas hastes do volante), exagerado em “prateleiras” e espaços mal aproveitados, sem porta-luvas e com o minúsculo painel de instrumentos. Não, agora o Fox virou “adulto” e ganhou um painel completo. Além dos instrumentos seguindo o padrão da Volks em outros carros superiores, o console central está voltado para o motorista. Rádio e controles do ar são mais intuitivos e com peças de qualidade.
As saídas de ar deixaram a proposta barata para serem funcionais e contribuírem para o visual mais aprimorado do carro. A Volks, no entanto, não disponibilizou versões com o acabamento e os itens de entrada – todos os exemplares do test-drive possuíam opcionais como o volante multifunção, ar-condicionado e o I-System, computador de bordo com funções de configuração.
Suspensão bem ajustada, mas motor 1.0 não ajuda
Na parte dinâmica, o Fox é o mesmo o que significa que continua ideal com motor 1.6 e “cansado” com o motor 1.0. Pelo tamanho e peso, o Fox – e outros compactos mais espaçosos – não casam com motores de baixo volume. Basta uma pequena inclinação para perder o ritmo, ainda mais se o proprietário optou pelo ar-condicionado.
A suspensão do carro continua firme, no meio termo entre dura e confortável. Bom para a estrada e talvez um pouco dura para a cidade. Agora a posição de dirigir ficou facilitada pelo nova coluna de direção que permite a instalação de ajuste de altura e profundidade.
Outra novidade do hatch é o câmbio com embreagem automatizada ASG, presente agora não só no Fox como no Polo, Gol e Voyage. Disponível apenas com motor 1.6, a transmissão, sem dúvida, é a mais eficiente do tipo à venda no país.
Mas não faz milagres. Imagine a situação no trânsito em que você precisa entrar com rapidez numa via expressa e está parado. Sua intuição manda acelerar fundo e esperar que o câmbio entenda essa manobra e estique as marchas para ganhar velocidade logo. No câmbio automatizado essa atitude vai causar um belo tranco na troca de marchas e um certo vacilo ao acessar a pista. Ou seja, com esse tipo de mecanismo, o motorista precisa se adaptar a ele, inclusive, no sistema I-Motion, da VW.
No modo sequencial, com paddle-shift, a tocada é mais natural porque você sabe que virá uma troca de marchas e alivia o pedal do acelerador. Pena que as borboletas são opcionais.
Nem básico, nem equipado
Por falar em equipamentos, analisamos detalhadamente os pacotes e versões do Fox com seus dois rivais diretos, os já citados Sandero e Agile. O carro da VW fica no meio do caminho: oferece mais que o Renault e menos que o Chevrolet.
A versão , que testamos, conseguiu 52 pontos no nosso índice de conteúdo contra 37 pontos do , diferença obtida, sobretudo por alguns itens como limpador traseiro, bancos com ajuste de altura e espelo de cortesia para o motorista.
O Sandero, com motor de 16V, anda um pouco melhor que o Fox, mas vem com rodas aro 14, um crime para um carro tão grande – o VW tem rodas aro 15 com pneus 195/55 contra 185/70 do Renault. O porta-malas deste também leva 60 litros a mais.
Mas reparem que o Sandero, mesmo com uma carroceria bem maior – 10 cm a mais de largura e entre-eixos 12 cm maior -, pesa quase o mesmo que o Fox: são apenas 16 kg a mais, reflexo do acabamento mais simples.
Já o tem um páreo duro pela frente, o , da Chevrolet. A diferença de preço é de quase R$ 800 favorável ao VW, mas os itens do rival são muito mais amplos. No nosso índice, o Fox Prime e o Agile LT tiveram os mesmos 69 pontos, mas por mais R$ 1 900 você leva a versão que atingiu nada menos que 84 pontos.
O Fox oferece chave canivete, ar quente, faróis de neblina, volante com ajuste de altura e profundidade e outros itens menores como luzes de leitura individuais. Já o Agile contra-ataca com equipamentos mais desejados como ar-condicionado, sistema follow me home, vidros elétricos dianteiros, piloto automático, computador de bordo, sensor crepuscular e alarme perimétrico.
E, pelos números oficiais, o Volkswagen anda mais e consome menos que o Chevrolet: a máxima é de 184 km/h contra 166 km/h, o 0 a 100 km/h aponta uma diferença de cerca de um segundo em favor do Fox, e o consumo vai de 0,5 km/l a 1 km/l mais econômico para o VW.
Contudo, os equipamentos mais interessantes do Fox são opcionais, principalmente na versão Prime. Ar, trio elétrico, repetidor de direção nos retrovisores, rádio, sensor de estacionamento, airbag, ABS, rodas de liga e até teto solar estão disponíveis, mas elevam o preço à estratosfera. Completo, a versão manual sai por R$ 50 876 e o I-Motion, por R$ 52 666. Com esse valor, dá para comprar um Golf 1.6 Sportline, apenas para ficar dentro da marca.
Ficha técnica
Volkswagen Fox 2010 Trend 1.0 8V flex manual 4p | |
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Preço | R$ NaN (11/2019) |
Categoria | Hatch compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 20.382 unidades |
Motor | 4 cilindros, 999 cm?/td> |
Potência | 72 cv a 5250 rpm (gasolina) |
Torque | 9,7 kgfm a 3850 rpm |
Dimensões | Comprimento 3,823 m, largura 1,64 m, altura 1,543 m, entreeixos 2,465 m |
Peso em ordem de marcha | 1009 kg |
Tanque de combustível | 50 litros |
Porta-malas | 260 litros |