Com jipinho T5, JAC acerta na mão
Novo modelo chinês agrada no espaço interno, design, acabamento e dirigibilidade, mas peca pelo motor fraquinho
Sintoma de que um carro é bom entre jornalistas especializados é quando você acaba de conhecê-lo e tem vontade de ficar com ele. Confesso que até hoje nenhum automóvel chinês chegou perto de provocar esse desejo de consumo em mim.
O que mais se aproximou disso até então foi o Chery Celer, o hatch que é feito no Brasil e que eliminou vários dos pontos que detesto em carros chineses – cheiro de cola, montagem deficiente e o acerto de dirigibilidade, com direções lentas e freios que demoram a fazer efeito. O Celer, se não encantou, ao menos fez sua parte em comportar-se como um carro qualquer.
Agora, pela primeira vez, posso dizer que um chinês caiu no meu gosto. O T5, SUV compacto que a JAC acaba de lançar no Brasil, enfim rompeu essa barreira. Não, ele está longe da perfeição e ainda herdou alguns aspectos ruins, mas no geral é um veículo que você usaria com prazer.
Esse momento era até que esperado. As marcas chinesas estão aprendendo a cada dia a entender o desejo de consumidores já que na sua terra natal elas são pouco populares – lá o que vende são carros estrangeiros feitos em parceria com montadoras locais.
Mas o T5 já é um ponto de convergência que mesmo lá fora faz sucesso. Segundo a JAC, quase 200 mil T5 (lá batizado de S4) foram vendidos nos últimos meses. É muito se pensarmos que algumas marcas 100% chinesas produzem isso por ano.
Espaço interno inexplicável
Afinal, o que me fez mudar de ideia ao conhecer o T5? Começa com o visual bem resolvido. É o típico ‘crossover’: incorpora elementos de um SUV, mas tem características de um automóvel também. Ele não a ser alto como um EcoSport, mas tem acesso fácil e visibilidade boa. O estilo é tão bem resolvido que dispensaria o excesso de cromados que a JAC achou por bem aplicar para dar um ar mais sofisticado – dá para crer?
Mas do lado de fora os chineses já fazem alguns carros atraentes, - a própria JAC tem no T6 um veículo chamativo embora calcado demais na Hyundai e na Audi. O T5, ao contrário, tem cara própria, algo que a marca havia conseguido em sua primeira leva de veículos vendidos no Brasil.
É na hora de assumir o lugar do motorista que as boas surpresas surgem. O SUV esbanja espaço interno, boa posição de dirigir (embora merecesse uma direção com ajuste de profundidade). A maior dos elementos vêm de outros JACs como é o caso do volante (inspirado em carros da GM), ar-condicionado digital e manopla de câmbio, mas aqui eles parecem que ganharam unidade.
O painel não tem exageros, o cluster é de fácil visualização e a central multimídia imensa, de 8 polegadas, domina o console central. Os acionadores dos vidros elétricos possuem desenho ergonômico e os bancos são de couro de série (Pack 3), com costura vermelha para dar um toque de esportividade.
A chave canivete é muito bonita assim como as rodas de aro 16. A grande surpresa, no entanto, é o espaço interno generoso. Sim, ele sobra tanto para as pernas de ambas as fileiras como na largura, algo que foi difícil acreditar pelo porte do carro – o mesmo se pode dizer do porta-malas, com 600 litros.
Derrapadas
Como adiantei, ainda não foi desta vez que os chineses acertaram em cheio. O T5, é verdade, não traz aquele típico cheiro enjoativo dos primeiros carros vindos da Ásia. Mas compensa pelo acabamento bem superior, um bom isolamento acústico e, sobretudo, por uma dirigibilidade agradável.
Pois é, ande num chinês da primeira leva e você vai sofrer com direção lenta, freios com modulagem irregular e câmbios que não gostam de ser manuseados. No T5, essa herança foi renegada. Ele é bem ajustado, responde como se espera e é econômico, o que nos faz lembrar de um ponto fraco.
O T5 teve o consumo medido pelo Inmetro e se saiu bem, porém, o custo veio num desempenho modesto. Com o mesmo motor Jet Flex do J3 esportivo, ele entrega apenas 127 cv e 16 kgfm de torque em altas rotações. Para deixar a coisa um pouco mais lenta, o T5 usa um câmbio manual de seis marchas longas que chegam a nos fazer esquecer de engatar a tal marcha extra.
Andamos em apenas duas pessoas, portanto, carregado, o T5 deve sofrer para aproveitar seu imenso espaço interno.
De R$ 69.990 SUV compacto Ford EcoSport, Peugeot 2008, Renault Duster estreia este ano 1.5 flex 127 cv a 6.000 rpm 15,7 kgfm a 4.000 rpm Manual de 6 velocidades 4,33 m de comprimento, 1,77 m de largura, 1,63 m de altura e 2,56 m de entreeixos 1.210 kg 600 litrosJAC T5 1.5 manual Pack 3 2016
Resumo
Preço
Mecânica
Motor
Dimensões
Medidas
Futuro "quase" nacional
Nada disso tira o brilho do T5 no computo geral. Há quem queira um SUV espaçoso e econômico, assim como bem equipado – a central é bem completa, mas um pouco complicada de espelhar um smartphone.
Como ele custa menos que seus concorrentes, dá sim para fazer vista grossa para alguns detalhes. Pense que a versão completa, que inclui o ESP (esse mesmo que o Corolla de R$ 100 mil não traz nem como opcional), a central, câmera de ré e os bancos de couro, sai por R$ 70 mil, valor que não chega às versões básicas dos rivais.
Se ainda não foram argumentos suficientes, vale lembrar que o T5 deve ser o primeiro carro nacional da JAC a partir de 2017. Quer dizer, quase nacional já que virá desmontado para ser finalizado na lendária fábrica que a marca sofre para construir em Camaçari, na Bahia.
Esses detalhes à parte, o fato é que os chineses já estão se equiparando ao que oferecem as marcas mais tradicionais. O T5 é a prova mais recente de que eles estão chegando com força.