Ainda mais chinês que brasileiro, Celer chega renovado

Compacto da Chery ?o primeiro modelo da marca fabricado no Brasil, mas começa com dois terços das peças vindas do exterior
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Novo Celer: mais chinês que nacional ainda | Imagem: Divulgação

Para quem nunca teve contato com um carro chinês, é importante saber que a experiência quase sempre envolve sensações ruins. Tocar superfícies pobres, manusear botões frágeis e, o principal, sentir um cheiro forte e desagradável no interior. O pior, no entanto, é ver peças se soltando, parafusos à mostra e uma sensação absoluta de descaso na montagem.

É basicamente essa má impressão que as marcas chinesas querem mudar. No caso da Chery, uma das primeiras montadoras a vender carros de passeio no Brasil, essa nova fase começa agora com o lançamento do renovado Celer, um compacto vendido nas versões hatch e sedã.

Ele é o modelo que estreou a fábrica de Jacareí (SP) em fevereiro e chegou às 72 concessionárias da marca nesta semana com a missão difícil de competir num dos segmentos mais disputados do mercado.

A boa notícia é que ele não tem cheiro de carro chinês, possui um visual atraente (no caso do hatch) e um interior mais ao gosto do brasileiro. A má é que ele ainda é mais chinês que brasileiro – 65% das peças vêm de fora – e persiste em oferecer algumas soluções pouco interessantes.

O preço, a partir de R$ 38.990 no hatch e R$ 39.990 no sedã, no entanto, já o coloca na mesma balada dos demais rivais nacionais, o que denota uma certa presunção da montadora: afinal se ele custa quase o mesmo por que trocar um produto conhecido por uma aposta?

A Chery tenta responder a essa pergunta repetindo exaustivamente a preocupação com qualidade, mas o Celer ainda deve em alguns pontos. Ele realmente evoluiu e muito em relação ao primeiro Celer, importado da China. Está mais amigável, com mais porta-objetos, bancos mais densos e confortáveis e facilidades que antes não existiam como uma simples entrada USB normal – os chineses adoram a mini-USB.

A montadora também garantiu que o índice de nacionalização chegará a pelo menos 50% até o final do ano. É fato que a fábrica brasileira começou num rimo bem lento, ainda ajustando sua linha de montagem a ponto de ter como meta produzir cerca de 10 mil unidades até dezembro, mesmo com uma capacidade instalada de 50 mil carros – o projeto final prevê até 150 mil exemplares por ano.

Painel decente

O Celer é rival de modelos compactos maiores como o Onix, HB20, Ka e Fox. É um carro longo e alto e dono do maior porta-malas da categoria com 380 litros (100 a mais que o Chevrolet). O visual anterior, se não era sem graça, também não empolgava. Agora o Celer nacional está bem mais esportivo e atraente.

As rodas são aro 15 polegadas e combinam com a lateral do carro. Já a traseira teve menos mudanças, mas conversa bem com o resto do carro. Mas é no interior que está a grande mudança. O painel do velho Celer era um dos piores já vistos, com botões grosseiros e um painel de instrumentos de difícil leitura.

Agora ele tem linhas mais convencionais e funcionais. É o caso dos difusores centrais que migraram para o topo do painel (antes eram como os do Palio Fire, no meio do console). O sistema de som é mais refinado e pode ser trocado por uma central multimídia vendida como acessório por caros R$ 1.800.

Os bancos ganharam espuma com mais densidade e há vários porta-trecos espalhados pelo carro assim como mais entradas 12V. O volante, ao contrário, é semelhante ao antigo e usa um plástico um tanto rústico. É, aliás, um dos pontos fracos do carro. Os plásticos, embora até bem montados, têm textura simples demais sem falar na ausência de detalhes que poderiam melhorar essa sensação como molduras nos difusores ou mesmo o aplique de tecido nas portas.

Motor melhorado

A Chery enumerou várias melhorias no Celer para adaptá-lo ao gosto do consumidor. Entre elas a suspensão mais firme e mais alta, um câmbio com engates mais curtos e um acelerador com respostas mais velozes. O motor 1.5 flex também foi aprimorado e passou a ter 113 cv de potência com etanol e um torque máximo de 15,5 kgfm.

A montadora, no entanto, se limitou a dizer que a velocidade máxima é de 175 km/h sem citar os números de consumo obtidos pelo Inmetro. Segundo o órgão, o Celer hatch faz 6,3 km/l na cidade e 8,3 km/l na estrada com etanol e 9,2 km/l e 12,5 km/l com gasolina, respectivamente. É um desempenho um pouco pior que o do Sandero 1.6, por exemplo, mas o Inmetro, em seus critérios confusos sobre porte dos carros, deu nota ‘E’ ao Celer na classificação por categoria, um erro já que ele está sendo comparado a modelos maiores.

Melhor ‘chinês’

Dirigir o Celer é uma tarefa melhor em geral comparada a de outros carros de marcas chinesas. Ele tem uma direção hidráulica bem calibrada, um motor esperto e uma suspensão que não compromete. Peca apenas nas trocas de marchas um tanto secas, apesar da dita melhora no câmbio.

O espaço interno é um tanto estreito e achar a melhor posição de dirigir um pouco cansativa já que o ajuste do volante é pesado assim como a roldana que altera a altura do banco. O acesso ao carro é bom, mas dependendo do exemplar, as portas estavam mais ou menos leves.

A Chery exalta a capacidade do porta-malas, porém, a base alta dificulta o acesso ao bagageiro. Quem levar o sedã também vai estranhar a articulação da tampa do porta-malas, feita junto com vidro, como nos primeiros Passats nacionais da década de 70.

O novo Celer ‘aprendeu’ a ser brasileiro, isso é notório. Precisa evoluir em vários aspectos, mas já não se pode crucificá-lo pelos defeitos que os primeiros carros chineses trouxeram. Daí a optar por ele em vez de um modelo consagrado é uma resposta que teremos a partir das próximas semanas quando o Celer começar a ser emplacado.

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